Aparicio e Canabarro

opinión
O aperto de mãos entre
Aparicio e Canabarro
por Carlos Alberto Potoko

A marcha por Aparício Saraiva
até um monumento em Massoller
foi por acordo firmado em um dos lugares
mais altos da linha divisória, para deixar ali,
para sempre a estátua do heróico
caudilho riverense fronteiriço.



E isso não é para menos, pois ele foi um político, militar e caudilho não só do Partido Blanco do Uruguai, como lutou em Carovi no Brasil ao lado do seu irmão brasileiro Gumercindo Saraiva na Revolução Federalista de 1894. Notabilizando-se por vários feitos, Aparício foi o quarto filho sobre treze havidos pelo matrimonio brasileiro formado por Francisco Saraiva e Propicia Da Rosa (seu sobrenome se castelhanizou como Saravia). Seu pai, Francisco Saraiva, que havia lutado na Guerra dos Farrapos, emigrou para o Uruguai em busca de melhores dias, e lá enriqueceu, tornando-se uma das maiores fortunas daquele país na época, mas que depois, gasta toda ela na compra de armas e cavalos. Questionado sobre a possibilidade de empobrecer, contava: “Prefiro ver meus filhos pobres a sem pátria”.


David José Martins, conhecido como David Canabarro, (Taquari, 1796 — Sant’Ana do Livramento, 1867) foi um militar brasileiro descendente de açorianos, neto de José Martins Faleiros e dona Jacinta Rosa, naturais da Ilha Terceira. David Canabarro -iniciou sua vida de militar na campanha de 1811-1812 - contra Artigas. Para essa campanha deveria seguir o irmão mais velho, Silvério, já então com 18 anos. Entretanto, auxiliar precioso do pai nas lides campeiras, iria fazer muita falta. E David, contando quinze anos de idade, reconhecendo o fato, solicitou ao pai licença para seguir em lugar do irmão. Patriota como todo estancieiro do Rio Grande do Sul daqueles tempos (e até hoje), José Martins Coelho não vacilou, e se apresentou às forças do nobre Dom Diogo de Sousa, conde de Rio Pardo.

Terminada a campanha, promovido a alferes, regressa ao lar, mas em seguida volta para combater Artigas (1816/1820). Anos mais tarde vemo-lo tenente das forças de Bento Gonçalves da Silva na Guerra da Cisplatina de 1825-1828, que culminou com o tratado de paz de agosto de 1828 e a independência do Uruguai. Lá, teve papel preponderante na batalha de Rincón de las Gallinas, salvando o exército brasileiro de completo desbarato (24 de Setembro de 1825), o que lhe valeu os galões de tenente efetivo do Exército Nacional. Na 21ª Brigada de Cavalaria Ligeira comandada por Bento Gonçalves da Silva, ainda na Guerra da Cisplatina, assistiu à indecisa batalha do Passo do Rosário, obrando prodígios de valor e de audácia.

No final da Revolução Farroupilha como chefe dos revoltosos, aceitou a anistia oferecida pelo governo em 18 de dezembro de 1844, através do Duque de Caxias, chamado O pacificador. Enquanto as negociações prosseguiam, Canabarro recebeu uma proposta de Juan Manuel de Rosas, governante argentino, que pretendia ampliar as fronteiras de seu país em troca da colaboração farroupilha, ele receberia ajuda argentina para continuar a batalha contra o império. Canabarro respondeu através de carta, onde afirmava sua fidelidade ao país, mesmo que este fosse monarquista e ele republicano.

Encerradas as negociações em 25 de fevereiro de 1845, ficou estabelecido que os republicanos indicassem o próximo presidente da província, o governo imperial responderia pela dívida pública do governo republicano, os oficiais do exército rebelde que desejassem passariam ao exército imperial com os mesmos postos e os prisioneiros farroupilhas seriam anistiados.

Cessadas as guerras, volta agora David Canabarro ao lar, à vida do campo na cidade, mas desta vez carregado por aguerridos santanenses em espetacular marcha de 590 km. Por isso fico a matutar: acho que é para ele apertar a mão de um velho conhecido, Aparício Saravia. Imagino como não seria a prosa deles sobre os velhos tempos, a globalização por estas bandas.

Carlos Alberto Potoko
deRivera.com.uy